As recentes negociações entre a TAM e a chilena Lan estão bem nebulosas. Informações indicam que esta será mais uma daquelas transações globais que são apresentadas à população brasileira como um grande negócio para o Brasil, mas que na verdade se transformam em uma perda nacional. Assim foi com a Ambev (Antártica e Brhama), que foi apresentada como sendo uma gigante brasileira que iria comprar parte da cervejaria belga, mas que na verdade o que aconteceu foi o inverso. A Imbev ficou menos verde e amarela do que a Ambev.
A compra da Brasil Telecom pela OI foi apresentada à população como sendo a retomada do mercado de telefonia por uma empresa 100% nacional. Só marketing! Na recente transação entre a Telefônica de Portugal e a da Espanha em torno da operadora de telefonia celular Vivo, sobrou para a OI. Uma quinta parte da empresa foi repassada aos portugueses.
Agora, depois de perder a Varig e a Transbrasil, nosso país parece estar perdendo a TAM – que um dia sonhou que a sigla deixasse de significar Transportes Aéreos Marilia e passasse a significar Transportes Aéreos do Mercosul. O acordo foi apresentrado à opinião pública como sendo vantajoso para o Brasil e à Tam. Na prática, ele parecer estar inserido num projeto expansionista e ambicioso da Lan chilena, que já tem uma perna no Peru e outra na Argentina.
Considerando os acordos no âmbito do MERCOSUL e a política de Céus Abertos, que o Brasil vem adotando, pela qual empresas de determinados países poderão operar livremente no Brasil, quem sai fortalecida é a empresa chilena.
O Brasil que perdeu sua autonomia na navegação internacional, com o fim do Loyd, nas telecomunicações – nem as forças armadas possuem um canal seguro nacional e são obrigados a usar o da Embratel, cujo controle é mexicano – parece que vai ficar agora sem uma companhia aérea de porte internacional.
A Gol, embora tenha comprado a Varig, não tem presença internacional de peso. Deixou de operar os vôos da Varig para a Europa, Japão, México e alguns destinos nos EUA. Praticamente, só opera na América do Sul e com qualidade duvidosa.
Para um país como o Brasil, que busca um espaço de destaque no cenário internacional, possuir uma empresa nacional de aviação é indispensável. Uma companhia aérea internacional é peça chave numa política diplomática. Quem definirá que vôos existirão entre o Brasil e os países com os quais se busca contatos mais próximos? Os chilenos?
Eliana Consoni Rossi e Elton Fernandes, da COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, no trabalho UMA DISCUSSÃO DO IMPACTO DA CRISE AÉREA NO TRÁFEGO INTERNACIONAL DE PASSAGEIROS DAS EMPRESAS BRASILEIRAS já adiantavam que, considerando as especificidades do longo curso, as empresas nacionais não foram capazes de substituir o papel da GR.VARIG no cenário internacional. Com uma política de transporte aéreo tendendo para os Céus Abertos, a sustentabilidade geral e a participação de empresas brasileiras de transporte aéreo no mercado internacional de longo curso passam a ser preocupantes.
Numa política de racionalização de custos, é bastante previsível que a nova Latam cancele vôos da TAM por considerá-los desnecessários. Por exemplo, TAM e LAN voam de São Paulo para Lima. Será que os dois vôos vão continuar funcionando, ou um vai dar lugar ao outro, ou existirão apenas no papel, no formato codeshare?
A absorção da TAM pode representar ainda em perdas econômicas, como aconteceu com o fechamento da Varig. As perdas econômicas na balança comercial foram da ordem de bilhões de dólares. Só em passagens aéreas internacionais que passaram a ser vendidas por empresas de outros países, cerca de US$ 1,3 bilhão deixou de entrar anualmente no Brasil.
Assim sendo, esta transação econômica deveria ser alvo de uma atenção mais atenta por parte das autoridades governamentais. Não se pode prejudicar o país apenas pelo interesse econômico de um empresário. Ainda é cedo para saber como ficará tudo. Mas o certo é que não ouviremos mais a cada pouso o famoso slogan da TAM: “Uma empresa com o orgulho de ser brasileira”.
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